terça-feira, 16 de outubro de 2012

História: Urzela (imagem de 1860)




Urzela

(imagem de 1860)

Segundo o botânico Félix de Avelar Branco: «A urzela é uma planta criptogamica imperfeita, a que os portugueses deram este nome, os espanhóis o de orselle ou orcilla, os franceses o de orseille, do italiano roccella, querendo indicar uma planta de cor roxa. (...)

A verdadeira urzela, em vez de raiz tem um apoio nodoso aplanado, orbicular, e raramente uns fios mínimos, com os quais e com a sua base se agarra às pedras. Do seu apoio ou base nodosa, sobressaem hastes em feixe, levantadas, roliças e pouco ramosas, de uma a três polegadas de altura, e tanto elas como os ramos são de cor cinzenta-alvadia, e terminam em pontas agudas.

Esta planta é inodora, tem um sabor um pouco salgado e por fim levemente acre.

Nasce naturalmente, sem cultura nem amanho, nos píncaros e rochedos à beira mar das nossas Berlengas, da Provence e Languedoc, ilhas da Córsega, Elba e Sicília; nas da Berberia, nas ilhas de Cabo-Verde e outras nossas de África, nos Açores, Canárias, etc.»

A urzela tem muita utilidade na tinturaria por produzir uma viva cor púrpura. Serve não só para a tinturaria, mas também para a pintura, para dar cor aos mármores, vinhos, licores, etc.

A urzela, desde há muito conhecida nas Canárias, só em 1730 foi encontrada nas nossas possessões africanas.

Um negociante de Tenerife, à vista de uma amostra deste musgo que lhe foi enviada da ilha Brava (Cabo-Verde), mandaram uma embarcação com alguns urzeleiros àquela ilha, onde carregaram 500 quintais, dando de luvas ao capitão-mor, pela licença, uma pataca por quintal.

Os jesuítas, sabendo disto, e conhecendo o valor comercial desta planta, requereram ao rei D. João V privilégio exclusivo para apanhar e exportar aquela ervinha seca, querendo inculcar por este humilde nome, que era planta de pouca valia.

Mas o rei já estava bem informado, e em vez de dar o privilégio aos padres, tomou-a para si, proibindo a apanha da urzela e dado-a por arrematação a um negociante holandês estabelecido em Lisboa. Em 1750 arrematou-a um português, José Gomes da Silva Candeias, que lhe deu grande incremento, até que passou para a administração da companhia do Grão-Pará e Maranhão, que fraudou grandemente o estado, em virtude do que passou a ser administrada por conta do governo em 1750.

Prosperou muito por esse tempo, a ponto de em 1820 e 1840, o seu rendimento líquido para o tesouro ter subido de 80 para 100 contos de réis.

O decreto de 17 de Janeiro de 1837, que declarou livre a exportação da urzela das províncias de Angola, Moçambique, S. Tomé e Príncipe, ainda que não fosse tão boa como a de Cabo-Verde, fez-lhe perniciosa concorrência, pelo que os arrematantes largaram o contrato.

A 5 de Junho de 1844, promulgou-se outro decreto, declarando o comércio das plantas conhecidas com o nome de urzela, ficava, em todas as províncias portuguesas de África, exclusivamente reservada ao governo, o qual o poderia dar por contrato, se fosse conveniente, gozando os contratantes de todos os privilégios concedidos aos arrematantes da fazenda pública.

Archivo pittoresco, Volume 3

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